Mover-se Corporal e Fragmentação da Educação
- educacaomoverse
- 6 de fev. de 2023
- 3 min de leitura
| Luis Vasquinho |
Há muito se fala, na educação, da importância em se pensar o conhecimento escolar como algo integrado. Conceitos como interdisciplinaridade, multidisciplinaridade, transdisciplinaridade, pluridisciplinaridade, propõem formas de se estabelecer relações e interações entre os componentes curriculares.
Convidamos você a pensar na escola como uma árvore. Sua raiz está fincada ao solo, que é a sociedade na qual se situa. O tronco define o que cada escola se propõe a contribuir com o desenvolvimento dos estudantes na localidade onde a escola existe. Os componentes curriculares são representados pelos galhos que saem do tronco e se ramificam em galhos menores até chegarem às pontas. Cada um dos galhos parte do tronco da árvore, porém, em direções diferentes. Não existem conexões ou interações entre os galhos de forma natural, ou seja, tentamos conectar nossos conteúdos aos conteúdos de um ou mais componentes curriculares procurando unir dois galhos naturalmente separados. Um exemplo é o de um professor ou uma professora de ciências que está ensinando sobre o coração e nos procura, para que nas aulas de educação física, ensinemos os estudantes a aferir a sua frequência cardíaca, sem se apropriar previamente sobre o que estamos ensinando. Ou seja, uma tentativa de unir os galhos na qual o galho da educação física deve desviar seu curso natural para se aproximar do galho das ciências. É fato que é possível alguns galhos se aproximarem, mas em geral só existem duas maneiras disso acontecer: ou é fruto de uma coincidência, por exemplo, se no exato período do ano em que se aprende sobre o coração em ciências, a educação física se propõe a ensinar os alunos a aferirem a sua frequência cardíaca, ou fazendo um planejamento anual coordenado entre todos os componentes integrando os conteúdos. Importante considerar que existem modelos pedagógicos que se baseiam em propostas que procuram integrar os conhecimentos, mas esses constituem uma exceção na educação brasileira, que historicamente é baseada em um modelo no qual os galhos não se encontram.
Um outro agravante da fragmentação do conhecimento escolar é que os galhos continuam a crescer sem que haja podas, ou seja, cada vez mais se inserem “novos” conteúdos na escola sem que conteúdos passíveis de revisão sejam retirados. Esse grande volume de conteúdos por si só constitui um dificultador da integração dos conhecimentos. Cada componente acaba preocupado consigo mesmo.
Quando professores passam a se preocupar com os seus conteúdos, afastam-se dos motivos pelos quais a escola foi criada, ou seja, o desenvolvimento dos alunos.
Preocupados com nossos conteúdos e sobre como fazer para que os alunos se apropriem deles, esquecemos de refletir sobre o porquê ensinar determinados conteúdos, para que ensiná-los, e principalmente, para quem ensinar.
Sugerimos que pense no seguinte: como é o mundo dos meus alunos? Quais situações estão presentes na sua vida? Essas situações são solucionáveis se valendo apenas de um conhecimento específico do meu componente curricular ou demandam um conjunto de conhecimentos que, integrados, auxiliarão o aluno na resolução da situação?
Se as demandas do mundo são cada vez mais complexas, as soluções carecem de saber lidar com essa complexidade. É necessário saber escolher e utilizar diferentes conhecimentos de diferentes áreas do conhecimento de forma integrada para solucioná-las. Mas como poderíamos pensar em integrar os componentes curriculares num modelo educacional com foco nos conteúdos?
Uma das proposições feitas para reduzir a fragmentação é o agrupamento de componentes curriculares em áreas do conhecimento: Linguagens e suas Tecnologias, Matemática e suas Tecnologias, Ciências da Natureza e suas Tecnologias, Ciências Humanas e Sociais Aplicadas. Acerca disso, trazemos aqui uma reflexão. Se por um lado reunir os componentes curriculares em áreas poderia reduzir a fragmentação curricular, por outro, não poderia proporcionar um afastamento dos componentes situados em áreas diferentes? Em outras palavras: a educação física quando situada na área das linguagens não se afasta da história, que está na área das Ciências Humanas?
Outra proposta é a eleição de Temas Transversais Contemporâneos (TTCs), que procuram contextualizar o que é ensinado por meio de temas de interesse dos alunos e relevância social. Entre eles estão o meio ambiente, a diversidade cultural, a cidadania, a saúde, entre outros. Propostos como sugestão nos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs), na ocasião chamado apenas de Temas Transversais, os TTCs agora são obrigatórios.
Mover-se corporal. Um integrador do conhecimento escolar VIDA É MOVIMENTO.
Absolutamente tudo o que fazemos na vida demanda movimento. Ele está presente em cada pequeno ato de nossa vida. Fazemos na maioria das vezes sem notá-lo, mas ele está lá. Ele é atemporal, ou seja, não é antigo, moderno nem contemporâneo. É inextinguível, esteve, está e estará sempre conosco. Quando se manifesta muitas vezes aparenta ser simples, mas é extraordinariamente complexo. Como está em todos nós, ao associar qualquer conhecimento ao movimento, imediatamente todos se identificam. O movimento está na Matemática, na Língua Portuguesa, nas Artes, na História, na Geografia, nas Ciências, e principalmente, no mundo dos nossos alunos.